Um pouco de tudo, como uma manta de retalhos.
Detalhe de artigos de vidro e cerâmica.
Miscelânea de velharias e antiguidades.
O Snr. Manuel (ao centro) vende livros, gravuras e revistas antigas.
Até a paragem de autocarros não escapa à realização de "negócios".
Depois de um intervalo longo, devido a vários condicionalismos incontornáveis, e depois de uma incursão matinal ao Campo de Stª Clara, mais concretamente à Feira da Ladra, onde fiz algumas fotos ocasionais, resolvi retomar a actividade neste blogue.
Para quem não sabe, a Feira da Ladra tem origem na Idade Média, século XIII, sendo o mais antigo mercado de Lisboa. É situado no Campo de Santa Clara, na freguesia de São Vicente de Fora desde 1882 e funciona todas as terças feiras e sábados de manhã. O regulamento de funcionamento pode ser lido aqui. In english you can read here the Frommer's Review.
A Feira da Ladra também mereceu dois poemas/canções:
"É terça-feira"
Sérgio Godinho
É terça-feira
e a feira da ladra
abre hoje às cinco
de madrugada
E a rapariga
desce a escada quatro a quatro
vai vender mágoas
ao desbarato
vai vender juras falsas
amargura
ilusões
trapos e cacos e contradições
É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração é incapaz de dizer
"tanto faz" parte p´ra guerra
com os olhos na paz
É terça-feira
e a feira da ladra
quase transborda
de abarrotada
E a rapariga
vende tudo o que trazia
troca a tristeza
pela alegria
E todos querem
regateiam amarguras
ilusões
trapos e cacos e contradições
É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte p´ra guerra
com os olhos na paz
É terça-feira
e a feira da ladra
fica enfim quieta
e abandonada
e a rapariga
deixou no chão um lamento
que se ergue e gira
e roda com o vento
e rodopia
e navega
e joga à cabra-cega
é de nós todos
e a ninguém se entrega
É terça-feira
e das cinzas talvez
amanhã que é quarta-feira
haja fogo outra vez
o coração
é incapaz
de dizer
"tanto faz"
parte p´ra guerra
com os olhos na paz
Nova Feira da Ladra
Carlos do Carmo
Composição: Ary dos Santos
É na Feira da Ladra que eu relembro
uma toalha velha, toda em linho,
que já serviu uma noite de Dezembro,
e agora cheira a Setembro,
como o Outono sabe a vinho.
Não valem muito mais que dois pintores
os quadros das paisagens
que eu já sei,
mas valem, pelos frutos, pelas flores
que em São Vicente das Dores,
fora de mim, eu pintei.
O que é que eu vou roubar à Feira?
Um beijo de mulher trigueira.
Aqui um coração, ali uma gravura.
É a Feira da Ladra ternura.
O que é que eu vou trazer da Feira?
Um corpo de mulher braseira.
Aqui está um lençol, bordado como dantes.
Esta Feira da Ladra é dos amantes.
E na Feira da Ladra nos vingamos
dum pouco desse tempo que morreu.
Em cada botão velho que compramos
há sempre uma corja de amos
que em Abril, Abril venceu.
Agora não compramos velharias,
tudo passado é lastro do futuro.Labels: Coisas de Lisboa, Feira da Ladra