Monday, January 09, 2012

Aeródromo Brig. Costa Franco - 1965


"Os Pilotos Srs. Vaz Pinto, Engº Jorge Canelas e Dr. Lourenço de Almeida, todos proprietários de aviões de turismo, com interesses ligados à terra algarvia, apaixonados das claridades desse litoral, decidiram-se há tempos a arranjar um pequeno aeródromo para ali poderem aterrar com os seus aviões - o que fizeram, juntando esforços. Quis a roda caprichosa da fortuna que o actual Presidente da Câmara de Lagos, brigadeiro Costa Franco, fosse um antigo piloto da Aviação Militar e a partir daqui começou-se a entrever um horizonte mais largo. A iniciativa passava então para o campo do interesse público e natural seria que a Direcção Geral da Aeronáutica Civil contribuisse com o seu auxilio, como de facto veio a suceder. Tudo isto, claro está, leva o seu tempo e exige trabalhos e dedicações. Mas os algarvios não são menos dedicados à sua terra que os transmontanos, os beirões, ou os estremenhos... e assim o Aeródromo de Turismo de Lagos se transformou numa realidade...
O aeródromo, construído no sítio do Paúl, a dois quilómetros de Lagos, importou aproximadamente em trezentos contos, tendo a Câmara local e a DGAC, contribuído para o efeito. A zona de aterragem consta de uma pista de 540 metros, devidamente sinalizada. O campo dispõe de manga indicadora de direcção do vento. A meio comprimento e ligado à pista por um pequeno acesso, encontra-se um coberto tipo «tropical», que desempenha perfeitamente o seu papel de abrigo contra o sol, para aviões, pilotos e automóveis." ... "Tivemos a oportunidade de contactar com o Sr. João A. Veloso, Director do Aeródromo de Lagos e, de facto, indo ao encontro do que pensávamos está prevista uma série de melhoramentos, que se espera ir cumprindo gradualmente - hangar, bomba de reabastecimento e aumento da pista. A seu tempo será encarada a formação de um Aeroclube, local ou regional, ou se tal não for viável, apenas uma delegação do Aeroclube de Portugal. ..
Para a festa da inauguração foi elaborado o seguinte programa:
10:00-12:00 - Aterragem dos aviões
12:05 - Benção do Aeródromo pelo Rev. Padre Julio T. Mendes
13:00 - Almoço na Adega Cooperativa de Lagos
15:45 - Sessão de acrobacia por um avião T-37 da Força Aérea
16:00 - Sessão de acrobacia por um avião Tiger Moth do AeCP
16:00 - Sessão de acrobacia em planador
16:40 - Demonstração das possibilidades de um avião DO-27
17:00 - Fim do Festival
17:15 - Inicio das descolagens dos aviões para o regresso.
Às 12:30 de domingo, 16 de Maio 1965, contavam-se vinte e três aviões entre unidades de dos diferentes Aeroclubes, da Força Aérea e particulares. transporte de pilotos - que fazem já parte de uma "familia" - e de entidades oficiais também muito afectas já a estasreuniões. Apontamos alguns nomes: Os Snrs brigadeiro Fernando de Oliveira, Presidente do Aeroclube de Portugal, Joaquim Ferreira de Matos, Secretário do mesmo Clube, coronel Santos Júnior, do Aeroclube do Porto, ten-coronel Joaquim Cerqueira, 2º Comandante do Depósito de Material da Força Aérea, Engº António de Aguiar, representando o Sr. Diractor Geral da Aeronáutica Civil, Engº António Viçoso e piloto Carlos Tavares, igualmente da DGAC Jorge Vargas, «Serra», Mário Velez, Walter Cudell e esposa, Abílio Matos, conde de Monte Real, António Maia e muitos outros.

A cerimonia inaugural teve inicio cerca do meio-dia, com o descerrramento de uma placa com a inscrição "Aerodromo Brigadeiro Costa Franco". O Sr. João Veloso proferiu algumas palavaras alusivas e enalteceu os esforços desenvolvidos por aquele oficial, após o que o Rev. Padre Tropa Mendes benzeu o campo de aviação. Em seguida, convidados e anfitriões, reuniram-se em Lagos num almoço, que decorreu no meio da maior satisfação e camaradagem. Entre outros, discursaram os Srs brigadeiro Fernando de Oliveira e engº Antonio de Aguiar. O Sr. brigadeiro Costa Franco encerrou os discursos agradecendo a presença de todos e os auxilios recebidos das entidades oficiais ali representadas.
Estando a programa a decorrer muito certo, iniciou-se o festival aéreo com uma sessão de acobracias em "T-37", pilotado pelo tenente Retorta, da Base Aérea 1. «Loopings» «tonneaux», e passagens em voo a rasar, entre outras figuras, entusiasmaram a assistência. Este número a acabar e Jorge Vargas pronto a subir, com o velho «Tiger» azul e branco do Aeroclube. Só um bom piloto como ele é, poderia tirar tanto efeito de um aparelho pouco indicado para a acobracia de exibição. Foi depois para o ar, a reboque do «Auster ANB», o planador «Mucha Standard» pilotado pelo Dr. João Cardoso Fernandes.
O público admirou as linhas graciosas do veleiro e ficou surpreendido com as manobras acrobáticas - poucas seriam as pessoas que já haviam visto um avião sem motor e, em especial, a fazer acrobacia. As qualidades do «Mucha» permitiram, depois de largado a 700 metros, a execução de numerosos «loopings» e «renversements», e a bonita passagem final a baixa altitude, com vento de cauda, na ordem dos 200 km à hora... Finalmente, um «Dornier» da FAP, tripulado pelo sargento Figueiredo, fez uma demonstração de descolagens e aterragens curtas, e subida em espiral apertada, que deixou a «rapaziada» dos «papagaios» com a pulsação muito alta ... Taças entregues aos pilotos que fizeram o «show», mais fotografias, poses para a TV, e ... começa a debandada. Malas, casacos, taças e mapas para dentro dos aviões que descolam rumo aos seus destinos. Lá vai também, envolto na nuvem de pó levantada pelo rebocador, o veleiro «Mucha» que, quinze quilometros mais adiante teria de fazer uma aterragem de recurso por se ter solto o cabo de reboque ... A Jorge Vargas sucede igualmente um percalço, tendo de aterrar em emergência no Aeródromo de Sines; Antonio Mendes, com o seu «AKS», fez a repescagem do piloto. Mais acidentada foi a aventura do «Mucha» mas essa fica para contar noutra ocasião ..."  Da Revista do Ar de Maio 1965, sobre a inauguração do Aeródromo de Lagos.

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